Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Percival Puggina
Depois do futebol, o segundo maior esporte nacional é colocar a culpa nos outros. O objetivo consiste em transferir para fora a causa de nossos males, como se fosse da água do mar e não dos furos no casco a responsabilidade pelo afundamento do navio. Tudo serve, desde que não se torne necessário um mea culpa.
Para evitá-lo, decidimos que o Brasil é um
país rico. Sendo assim, embora o PIB per capita nos situe pouco acima da linha
do miserê, o Estado deve gastar como numa eterna terça de carnaval e não
houvesse amanhã. Em inusitada e superfaturada declaração de rendimentos, nos
proclamamos “ricos”. E estamos tão convictos disso que não hesitamos em crer
quando nos dizem que norte-americanos e europeus, ou chineses, ou africanos,
parceiros dos nossos adversários políticos, sejam de que banda forem, viveriam
séculos de necessidade sem a sistemática exploração do Brasil.
Afinal, convenhamos: só mandamos para Brasília
gente da melhor qualidade, admiráveis estadistas, homens sábios, austeros e
dedicados exclusivamente ao interesse público, que fugiram do endividamento e
combateram ferozmente a corrupção e a impunidade. Não estivemos, durante um
quarto de século, sob governos de esquerda, atualizados com o que há de mais
moderno em pensamento político?
Pode haver modelo mais bem sucedido do que
esse que insistentemente preservamos em todas as constituições republicanas e
referendamos em dois plebiscitos? Só alguém muito tolo (como eu mesmo) não
notou ainda aquilo que todo cidadão esclarecido percebe: a concepção engenhosa
e funcional do nosso sistema, que afasta os demagogos e atrai para a vida
pública os maiores talentos que a nação produz. Não é certo que ele gera
estabilidade e instituições sólidas? Não produz ele partidos e programas que se
sobrepõem aos grupos de interesse? Não é como conseqüência dele que o eleitor brasileiro,
lúcido e participativo, comparece periodicamente às seções de votação movido
pelos mais nobres ideais, estimulado à fascinante tarefa de escolher os
melhores dentre os muito bons?
Por outro lado, dado que a riqueza de uma
nação também se apóia em certos requisitos sociais, nosso povo é orientado a
apreciar valores morais elevados. A arte, a cultura, a educação, o civismo e a
ordem pública têm entre nós a devida reverência, não é mesmo? Admiramos nossos
presidentes porque gastam com prudência. Bem sabemos que nossos parcimoniosos
legisladores condenam todo privilégio e dedicam pentecostal fidelidade a seus
partidos. Orgulhamo-nos de que nossas leis, redigidas com sabedoria, valendo
para todos e refletindo a vontade social, valorizam a família, a conduta
austera, a iniciativa privada, a propriedade, a ordem, a justiça e a liberdade
exercida com responsabilidade. Um novo século de Péricles, 2,5 mil anos depois!
Um país assim só pode ser objeto da mais
cobiçosa exploração. Se no que nos concerne como nação, sempre fizemos nossa
parte, a máxima culpa dos males brasileiros só pode ser dos outros, não é
mesmo?
Um comentário:
Caro professor,
nossas mazelas, um pais que patina e não deslancha, sem ensino de qualidade, sem pesquisa de ponta, sem ser inovador, deve tudo isso aos apátridas políticos que só pensam nos próprios bolsos.
Nosso país é rico em recursos naturais e pode ser cobiçado. mas se algumas potências já nos exploram e outras poderão vir a fazê-lo é porque as nossas instituições e aqueles que as habitam permitem.
Bom dia!!
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