Por João Baptista Herkenhoff
Andar de bicicleta lembra-me a infância em
Cachoeiro de Itapemirim, cidade localizada no sul do Espírito Santo, a terra
onde nasceu Rubem Braga, o cronista brasileiro cujo centenário está sendo
comemorado. Ruas com calçamento de paralelepípedos, poucos carros, nenhum
motorista correndo. Trânsito realmente humano, quase diria trânsito fraterno. A
convivência entre carros e bicicletas era absolutamente tranquila. Não me
recordo de um único atropelamento de ciclista, por carro, ou de pedestre, por
ciclista.
A bicicleta é um transporte alternativo que deve
ser valorizado, se pensamos em políticas públicas centradas em referenciais de
humanismo.
Andar de bicicleta faz bem à saúde. A bicicleta
reclama do ciclista postura correta, participação das pernas na pedalagem e dos
braços no manejo do volante, além de respiração correta e atenção. O ciclismo
oxigena o cérebro, constitui passatempo para o espírito, desenvolve a
inteligência.
Em países adiantados e cultos, como a França, o
ciclismo é um esporte que desfruta da adesão de altíssimo percentual da
população. No Brasil, temos também cidades de ciclistas, como Joinville, em
Santa Catarina.
Se praticado em grupo o ciclismo é, no caso dos
jovens, um valioso instrumento de socialização e, no caso dos idosos, um
remédio contra a solidão.
Embora tenha seu maior contingente de adeptos no
seio da juventude, o ciclismo é largamente praticado por adultos. Pessoas mais
velhas podem ter no ciclismo eficiente prevenção de doenças cerebrais e do
coração.
O ciclismo não distingue sexos, seja entre os
jovens – rapazes e moças, seja entre os mais velhos – senhoras e senhores.
Além dos benefícios que proporciona à saúde, a
bicicleta é um transporte baratíssimo, pois não consome combustível.
Devido ao grande aumento do número de carros, a
bicicleta exige hoje, nas cidades médias e grandes e também nas estradas, a
construção de ciclovias. Elas garantem a segurança do ciclista evitando
acidentes.
Temos de resistir ao modelo social que elege as
metas simplesmente econômicas como as essenciais, fazendo do ser humano mero
instrumento e produto da Economia.
A essa visão equivocada, que se funda numa
deformação ética inaceitável, temos de opor a idéia de que o homem é o
arquiteto e o destinatário da História.
Dentro dessa concepção, a construção de ciclovias
acompanhará, necessariamente, a construção de rodovias e avenidas.
João Baptista Herkenhoff, 76 anos, magistrado
aposentado, é palestrante Brasil afora e escritor. Autor do livro Curso
de Direitos Humanos (Editora Santuário, Aparecida, SP). Homepage: www.jbherkenhoff.com.br - E-mail: jbherkenhoff@uol.com.br
Um comentário:
Caro João Batista,
Belíssimo e curto aviso a todos os que não têm tempo para pensar em suas próprias vidas. Ciclismo é vida.
Sou um inveterado desde meus 12 anos quando meu pai teve dinheiro para comprar-me uma bicicleta (aliás uma belíssima, com marcha -3, em 1960). Fui corredor. Até hoje pedalo minha Barraforte '72.
Sou amante das ciclovias, mas também viagei muito em cidades da Europa que não as têm, e nem por isso, são desrespeitadas - ao contrário, ninguém as encosta. Ao contrário, aqui em São Paulo, ontem, um senhor com uma enorme Pajero Full, "entrou" com seu carro sobre minha bici, porque estava com pressa para encostar. Tinha a minha idade (65), mas ainda não aprendeu ... nada!
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