Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Milton Pires
Em primeiro de julho de
1921 foi fundado na atual cidade de Shanghai o Partido Comunista Chinês (PCC).
Apesar de várias pinturas retratando a presença de Mao Tse Tung nessa reunião,
é fato histórico que ele não estava presente. Os pioneiros do partido foram
Chen Duxiu e Li Dazhao.
Peculiaridades à parte, o
mais importante a ser lembrado é o cenário de verdadeira crise cultural que
existia no país naquele momento. Desde a Revolução Boxer, no início do século
XX, imperavam na China as mais diversas tendências políticas. Anarquismo,
socialismo, comunismo, além de uma incipiente burguesia faziam das cidades
costeiras, naquela época, uma espécie de caldeirão de possibilidades políticas.
É necessário lembrar que o
país como unidade
"apresentou-se" ao mundo ocidental como república em 1912.
Atribui-se o título de "Pai da Nação" a um médico chinês graduado pela
Universidade de Honolulu - Sun Yat Tsen. Extremamente culto, fluente em inglês,
e capaz de colocar a China em "sintonia" com o mundo da época,
precisamos entender que esse breve período republicano antes do início das
várias guerras civis chinesas que atravessaram o século XX, teve como opositor
membros de um PCC igualmente capazes do ponto de vista intelectual.
Talvez seja esse um dos
pontos mais importantes a salientar nesse breve artigo - a gigantesca distância
que existe entre a noção de comunismo chinês e maoísmo. Depois de 1917 não
houve, até onde eu sei, nenhuma elite intelectual capaz de propor o socialismo
"em um país" sem seguir as regras do Comintern (termo que designa a
Terceira Internacional Comunista). A China, e o jovem Mao Tse Tung, não foram exceção.
Neste pequeno texto o
objetivo é fazer uma rápida distinção entre o chamado "comunismo
chinês" e o maoísmo bem como salientar que são o caráter de extrema
violência revolucionária camponesa e o voluntarismo os aspectos mais
preocupantes no que se relaciona à atuação de alguns grupos que existem hoje no
Brasil.
Sabemos que, desde suas
origens, a Revolução Bolchevique nunca atribuiu aos camponeses um papel
revolucionário de protagonismo na URSS. Sabemos que existia, dentro do Partido
Bolchevique, teóricos cujo conhecimento das obras de Marx e Engels ultrapassava
de longe qualquer pensador chinês e não é demais salientar que a primeira
aproximação da China com o mundo ocidental, especificamente no século XX, não
foi com a URSS.
Pois bem, ressaltados estes
aspectos, é obrigatório dizer que a chamada transição e mais tarde substituição
do "comunismo chinês" pelo maoísmo nunca se fez de maneira brusca.
Não é demais lembrar que o simples termo "maoísmo" sequer é
reconhecido pelo PCC.
A expressão politicamente correta na China de 2013 é
"pensamento de Mao Tse Tung". Seu papel de liderança é conquistado
aos poucos dentro da luta pelo poder de comando na guerra revolucionária
(primeiro contra o Kuomintang de Chiang Kai-Shek, depois numa aliança de conveniência
com o mesmo Chiang numa guerra contra o Japão Imperial e, finalmente, outra vez
contra os mesmos nacionalistas que esse "caudilho chinês"
representava) que arrasou a China até a fundação oficial da República Popular
em outubro de 1949.
Já dissemos acima que o
papel dos camponeses e o voluntarismo são distinções fundamentais entre o
comunismo chinês e maoísmo. Falta agora salientar dois dados importantes.
Jamais pode alguém falar em maoísmo verdadeiro sem lembrar da importância do
Exército de Libertação Popular - nome dado ao antigo Oitavo Exército
Revolucionário cujo comando foi conquistado pelo próprio Mao depois de uma
série de intrigas e assassinatos que aqui deixamos de lado. Além disso, a
cooptação pela guerra de guerrilha dos assaltantes e bandoleiros que assolavam
a China desde o século XIX também distingue, em muito, os maoistas dos
primeiros comunistas chineses.
Passemos agora a estudar o
papel da violência revolucionária. Muito antes de Mao afirmar que o "poder
político vem do cano de uma arma", Lênin já sustentava que não haveria
revolução sem violência mas foi em Mao, não em Lênin, que a ela adquiriu no
pensamento revolucionário o papel de categoria "estrutural" da
sociedade chinesa. A noção de guerra revolucionária alcança na China Maoista
uma importância no inconsciente coletivo que jamais teve na URSS.
Enquanto em Lênin e Stalin
as execuções são secretas e a perseguição feita pela Tcheka (mais tarde KGB)
faz-se às escondidas, na China de Mao elas são públicas. Enquanto a violência do
regime soviético tem um papel "instrumental" pode-se dizer que no
maoísmo ela é a essência.
Mesmo distorcida por
Stalin, a visão de uma sociedade ideal concebida por Lênin atravessa toda
história da URSS de uma maneira que simplesmente não existe na China de Mao Tse
Tung - nela a guerra de movimento contra o Japão e os nacionalistas, uma vez
encerrada, deve ser levada adiante dentro da própria sociedade num fanatismo
constante de purificação que, mesmo nos expurgos de Stalin, jamais foi visto e
que alcança o ápice na Revolução Cultural de 1966.
O que preocupa,
consideradas todas as diferenças entre o Brasil do PT e a China de Mao, é a
semelhança de tamanho entre os dois países, a ignorância da grande maioria da
população, e a associação com grupos criminosos. Feita novamente a ressalva de
que não existe, até agora no Brasil do PT, o controle total do Exército
Brasileiro por esse partido criminoso, as demais coincidências são
interessantes. Talvez a mais assustadora delas seja exatamente aquela relacionada
ao famoso voluntarismo da militância esquerdista.
Desde o Manifesto de Agosto
- de 1950 - que marcou a crise dentro do PCB dando origem à "linha
chinesa" (PCdo B) e mais tarde à "Ala Vermelha", o que vemos são
sucessivas "rupturas" protagonizadas por dissidências partidárias que
cada vez mais aproximam os novos partidos do pensamento original de Mao Tse
Tung.
Hoje, em 2013, o país
assiste em silêncio as declarações da "Liga dos Camponeses Pobres" e
pode ler com a maior facilidade, pelo menos na Internet, as manifestações
assustadoras da "Nova Democracia" e do "Movimento Estudantil
Popular Revolucionário" - aviso sombrio para quem pensa que maoísmo não
existe mais (ou está restrito à Índia e ao Nepal) e que a China é um país que
fica muito longe daqui.
Dedicado
à minha amiga, Graça Salgueiro.
Porto Alegre, 21 de julho de 2013
Milton Simon Pires é Médico.
Um comentário:
Talvez, aqui, esteja sendo executada técnica aprimorada do domínio comunista, onde não há necessidade de apoio efetivo das FFAA ao movimento, apenas apoio passivo, onde se deixa a morte vir por inanição, criam-se forças políticas “oficiais”, como a força nacional de segurança e coadjuvantes, com o MST, índios e grupos de pseudotrabalhadores que promovem guerrilhas assimétricas, como está ocorrendo nas hidroelétricas. O momento final de transição é agora com a população sendo manipulada a promover a desordem geral. E tem gente que pensa que o gigante acordou.
Postar um comentário