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Por Arthur Jorge Costa Pinto
No último dia 22 de maio (sexta-feira), foi mais do que
notada,a primeira ausência do ministro da Fazenda Joaquim Levy na proclamação
do lendário contingenciamento de R$ 69,9 bilhões, para formalizar a tesourada
nos gastos públicos. As especulações tomaram conta do mercado financeiro e da
classe política, sobre o motivo pelo qual o ministro não compareceu ao anúncio,
repassando a sua responsabilidade e deixando os holofotes para o ministro do
Planejamento, Nelson Barbosa.
Levy declarou à mídia que se encontrava bastante gripado e
transpirou também a sua desconfiança de que sua presença levasse os jornalistas
presentes a questioná-lo exclusivamente sobre a elevação dos impostos. Ficou
evidente, nas entrelinhas da sua justificativa oficial, que há divergências que
entrelaçam o PT, o Governo e o ministro da Fazenda. Entretanto, esta desarmonia
vem modelando a sua desconexão com grande parte do governo e especialmente com
a seita petista.
A partir daí, Levy manifestou indiretamente sua
insatisfação sobre os cortes no Orçamento;também confidenciou uma possível
discórdia na esfera governamental,o que trouxe de imediato uma natural dúvida
ao mercado financeiro, quanto ao desejo da presidente em manter na rota o
redirecionamento da atual política macroeconômica.
Os analistas políticos afirmam que as discordâncias entre
Levy e Barbosa não estão apenas no montante de cortes do Orçamento que o ajuste
fiscal impõe. Fontes do governo não escondem que as divergências compreendem
também a desoneração da folha de pagamento das empresas e especialmente as
alterações aprovadas no cálculo do fator previdenciário.
Na semana passada, outra omissão de Levy se deu igualmente
em importante encontro e foi amplamente percebida. Esteve distante da reunião
dos líderes com o vice-presidente Michel Temer, com as presenças de Barbosa
(Planejamento) e Gabas (ministro do Trabalho). Mais uma vez, o titular da
Fazenda alegou problemas médicos para não estar presente. Possivelmente, não
foi a sua saúde o real motivo das coincidências para ambas as ausências.
A situação começa a encrespar, pois o PT não aprova o modelo
de ajuste apresentado pelo ministro e demonstra forte resistência sobre o
pacote. Cabeças coroadas do governo também caminham no mesmo sentido de um
ajuste mais brando que fortalece a base, nesse sentido dificultando a sua
aprovação e aumentando o clima de instabilidade.
Lembro-me de quando Dilma, no início do seu segundo
desgoverno, dirigiu-se com determinação aos brasileiros, justificando o convite
formulado a um homem público e reconhecido economista ortodoxo, oriundo da
famosa escola de economia de Chicago para comandar a nossa deteriorada economia.
Na época, ressaltou que sua intenção era organizar o seu segundo período
governamental em duas etapas distintas.
Nos dois primeiros anos de ajuste, adotaria o modelo desenhado
por Levy, e os dois últimos seriam dentro de uma linha que é amplamente
defendida pelo economista Nelson Barbosa (ministro do Planejamento),egresso da
primeira gestão inconsequente de Dilma, que é visto como um aliado das
políticas desenvolvimentistas mais ao feitio da seita petista.
Atualmente, notamos o temor dos analistas econômicos e o
anseio dos petistas que já iniciaram uma fase de pressões contra a nova
política econômica,com o objetivo de encurtar o período inicial destinado aos
ajustes recessivos e o início de uma flexibilização já no decorrer do próximo
semestre.
O ministro do Planejamento defendeu um corte abaixo de 70
bilhões, não transparecendo até então, um propósito de iniciar uma perigosa
“queda de braço” na área econômica. Como notamos, os dois simbolizam estilos
completamente diferentes e Levy, já carimbado como um tocador de uma política
de uma nota só, a do ajuste, com isso está inquietando o seu colega de equipe
econômica.
Embora Levy já tenha dito que apresentará propostas para a
segunda fase da política econômica mais direcionada aos investimentos, alerta,
entretanto, que o País somente chegará a ela através do compromisso inicial na
efetivação do dever de casa. Jáestá sendo criticado por alguns segmentos da
sociedade por ainda não apresentar uma consistente saída para a crise em que
estamos envolvidos.
Me dá meu boné
Embora diante das sutilezas nas discussões sobre o ajuste,
Dilma ainda não transpareceu que pretende “encurtar” a gestão de Levy na
Fazenda, mas este propósito já é iminente nos planos do seu criador, o
ex-presidente Lula, que já se encontra plenamente conspirando a sua fritura nos
bastidores da política nacional.
A sua saída será interpretada pelo mercado, como uma
derrota no nascedouro de um novo modelo econômico, sustentado por ele, e que
atualmente é visto até pela comunidade financeira internacional como
indispensável para evitar o caos financeiro do nosso setor público.
Em alguns instantes, o seu comportamento revela estar
praticamente isolado. Além da presidente, que desfruta do ápice de sua fragilidade
política e sem poder de mando, somente sobressai um sombrio apoio do presidente
do Banco Central, Alexandre Tombini.
Caso venha a ser aprovado o ajuste fiscal como se planeja,
parece que Levy terá maior desenvoltura para tocar sua estratégia de restabelecer
a recuperação da confiabilidade que falta a este desgoverno petista. Não resta
dúvida que enfrenta um imenso desafio; a economia brasileira encontra-se em
plena desaceleração, o que deverá ser acentuado no segundo trimestre desse ano,
comprimindo a arrecadação e consequentemente impedindo o cumprimento da meta de
superávit primário de 1,1% do PIB (Produto Interno Bruto) ao final de 2015.
Caso essas dificuldades venham a se consolidar, breve
deveremos apreciar um embate arriscado entre os atuais titulares da Fazenda e
do Planejamento. No Congresso, PT e PMDB já começaram um discurso para aprovar
uma emenda à LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) para o exercício de 2016,
recomendando redução na meta deste ano de 1,1% para 0,80% do PIB, o que traria
grande satisfação a setores governamentais. Essa possibilidade jamais agradará
Levy, pois ele considera este um caminho estratégico para quem quer suavizar os
cortes do orçamento.
Esses episódios mostram a grande desordem política e
ideológica que dominam o País, em função do elevado grau com que Dilma
contradisse suas promessas inexequíveis durante a sua última campanha eleitoral. Além disso, a melhora da economia em 2016 e o
crescimento econômico começam a ficar prejudicados. É importante aguardar os
próximos passos para ver se Levy continua no governo ou se infelizmente não
resistirá a outras pressões gripais.
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