Artigo no Alerta
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Por Stavros Xantophoylos
Membro do Comitê Executivo do
Movimento Avança Brasil
Esta semana tivemos dois
episódios interessantes e dicotômicos em sua essência, enquanto o CNE aprova
até 30% do conteúdo do ensino médio em modalidade EaD, pesquisa realizada em 35
países coloca o Brasil em último lugar no que se refere a percepção do
professor pela sociedade. Ou seja, vivemos um avanço na flexibilização do
ensino, mesmo que tímido, e por outro lado, estamos totalmente desalinhados com
a visão da profissão que motiva a aprendizagem e busca ensinar a todos tudo o
que sabem, ignorando o Professor.
Vivemos um momento impar
no mundo de hoje, passando por uma fase de transição com o alto impacto da
tecnologia na vida do indivíduo no âmbito pessoal, profissional e educacional.
Vimos a possibilidade plena de
interação do usuário com a internet e a sociedade em rede tomar corpo por meio
das redes sociais. Intensificamos nossas relações entre indivíduos, grupos ou
instituições com interesses convergentes e as relações de muitos com muitos.
Essa nova globalização caracteriza uma quebra de barreiras mais profunda, pois
cria um ambiente de pontos, ou hubs, potencialmente conectáveis conforme
interesses das partes em gerar essas relações, transcendendo qualquer limite, criando
uma nova dimensão de comunicação através de um ciberespaço de integração que
nos une virtualmente nesta realidade.
O papel da gestão educacional do país é
intensificar esta integração para acelerar o acesso e melhorar a qualidade do
ensino e a inclusão de todos.
Os movimentos de oferta
de materiais e cursos gratuitos oriundos das maiores e melhores universidades
do mundo, por exemplo, trazem um novo panorama no oceano que banha a educação
em todos os níveis, pois a maior parte do conteúdo comum está disponível na
internet, hoje. Por outro lado, temos o fenômeno da integração quase que
inerente à genética dos indivíduos nascidos sob a regência dessas tecnologias,
denominados “nativos” digitais, em dicotomia com a geração dos “imigrantes”
digitais, trazendo os desafios de preparar os ambientes educacionais para
gerarmos cidadãos digitais, entendendo-se aqui que esse esforço deve permitir
que todas as gerações possam ser efetivas como cidadãos e profissionais nessa
nova era global da economia do conhecimento.
Assim, o formato taylorista da
educação está com sua validade vencida e não apto a atender as novas demandas.
Instituições de ensino irão desaparecer se não adequarem o seu modelo.
Atualmente, o único país que estabeleceu uma ação nessa direção e está desdobrando
de forma efetiva uma política governamental é a Coréia do Sul.
As argumentações
introdutórias acima nos levam a muitas reflexões e trazem um grau de
complexidade enorme na definição das estratégias educacionais futuras, pois
como dizia a letra de um dos hinos do rock mundial, Another Brick in the
Wall, do Pink Floyd, que critica os sistemas de educação e a postura do
professor como sendo “simplesmente mais um tijolo na parede”, pode estar com
seus dias contados, ou seja a Síndrome do Tijolo na Parede, definição própria,
será por livre arbítrio da instituição, do professor ou do estudante,
inclusive, pois a escolha de ser tijolo, parede ou construtor da obra prima
será de cada um, independente do seu papel no processo da aprendizagem na era
da educação digital.
Então, como fica o método
ou o modelo pedagógico nesta era digital do século XXI?
Bem, no que se refere ao
método de ensino, Comenius, onde estiver, estará contente, pois sua frase, em
sua obra “Didactica Magna”, de 1638, que dizia, “é necessário desenvolver um
método de ensino em que os professores lecionem menos para que os alunos possam
aprender mais”, finalmente deverá se fortalecer nas estratégias de ensino como
premissa atual. Hoje, diferentemente de meados da década de 90, quando somente
alunos que estudavam na modalidade a distância faziam uso das ferramentas de
comunicação, interação, compartilhamento, disseminação e construção coletiva do
conhecimento, todos somos alunos, ditos a distância, a qualquer tempo, em
qualquer lugar, bastando termos acesso à internet.
O estudante ou aprendiz
assume um papel mais proativo neste novo cenário e visa resultado imediato a
aplicação daquilo que aprende. Assim, as metodologias ativas e
multidisciplinares de ensino aproximando o máximo daquilo que esteja sendo
estudado com a realidade ou aplicação na vida real ou profissional do estudante
devem ser adotadas em métodos mistos de aprendizagem, ou seja, temperados com
atividades presenciais e outras apoiadas por tecnologias.
O desafio maior é preparar
o professor, ou será que existe professor neste novo mundo?
Professor não é
profissão, mas vocação, portanto o papel do professor será mais importante e
assumirá novos elementos antes não integrados em suas funções. Além de buscar
maximizar o seu conhecimento em torno da sua disciplina, ele orquestrará, muito
provavelmente com um ou mais colegas, um processo de motivar e inspirar seus
estudantes para busca do aprendizado, orientará caminhos e busca de conteúdo às
necessidades de cada um, com qualidade adequada, e assim, além de ensinar,
passa a ser um curador da infinidade de informação disponível hoje pela
internet. Nosso desafio será adequar a formação e educação continuada do
professor.
Estamos na era da educação
digital, da colaboração, época do maior movimento da democratização do
conhecimento, onde não há distância ou limitação física para acesso à
informação, a velocidade do aprendizado pode ser definida pelo estudante, o
conteúdo alinhado com sua demanda prioritária e “quase” tudo realizado na palma
da mão.
Vamos aproveitar estas
resoluções e o momento de virada na estrutura política do país e priorizar a
reformulação da carreira do professor, valorizá-la, recuperar seu caráter
respeitoso e de ser respeitado. Fazer com que seja o catalizador da aprendizagem
e do desenvolvimento da sociedade, pois temos o desafio de formar cidadãos para
o século XXI e estamos atrasados.
Mãos à obra...
Stavros Xantophoylos é
Consultor em Educação. Membro da diretoria de relações internacionais da
Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), já tendo ocupado o cargo
de vice-presidente. Há 24 anos atua com Educação a Distância (EaD) para
graduação e pós-graduação. Foi vice-diretor do Instituto de Desenvolvimento
Educacional da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e diretor executivo do FGV
Online. Graduado e mestre em Engenharia de Produção pela Universidade de
São Paulo (USP), possui também doutorado em Filosofia e Administração. É
fundador e CEO da SPX Consultoria Educacional, especializada em soluções educacionais
online. Foi eleito Personalidade Educacional de 2011, 2013 e 2014, título
concedido pela Associação Brasileira de Educação, pela Associação Brasileira de
Imprensa e pelo jornal Folha Dirigida.
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