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Por Hélio Duque
No ciclo evolutivo da humanidade, o
iluminismo no século XVIII impôs o
predomínio da razão sobre a visão teocêntrica (religiosa) que dominou a Europa
por toda a Idade Média. Fundamentava-se no pensamento racional e na evolução do
humanismo, daí ser qualificado como o século das luzes. Influenciou a Revolução
Francesa com o trinômio Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Igualmente a
Revolução Americana com a independência das colônias inglesas que originou nos
Estados Unidos da América. Redigida em 1789, a Declaração dos Direitos Humanos
é filha legítima do iluminismo. O francês François-Marie Arouet, adotando
o pseudônimo Voltaire, sublimou a sua essência: “Não concordo com uma palavra
do que dizes, mas defenderei até o último instante seu direito de dizê-la.”
Nesse tempo digital, de internet e
redes sociais, é preciso preservar os valores civilizatórios do iluminismo. Poderosa
tecnologia, as redes sociais vêm se desenvolvendo com dinamismo incomum, para o
bem e para o mal, gerando grandes contribuições na informação instantânea seja
nos celulares, facebook, instagram ou whatsapp. Na outra ponta vem adulterando
a realidade derivada da proliferação das chamadas “fakes news.” Introduziram um
novo padrão nos modelos tradicionais nas relações pessoais, influenciando a
formação da opinião pública, além dos veículos tradicionais de comunicação.
Passou a ser parte integrante do cotidiano
das pessoas. Negar a importância das redes sociais nas relações contemporâneas
seria desconhecer a realidade. O ponto crítico é que vem se tornando força
poderosa na disseminação de conflitos pessoais, políticos, étnicos e outras
gradações. É o território livre para a expressão de opiniões sobre qualquer
assunto, mesmo quando não se conhece o que se debate. Agrega-se que questões
pessoais têm aflorado de maneira perigosa. O bom senso e equilíbrio deixam de
existir pela agressão gratuita, transformando o oponente em inimigo.
No caso, a mentira e a calúnia são
protegidas pela ausência de uma legislação punitiva. Protege o delinquente ante
a infâmia proferida. Crimes digitais e chantagens encontram nas redes sociais
terreno fértil, exigindo o máximo de cuidado e responsabilidade pela enorme
quantidade de notícias falsas veiculados nas redes sociais. Em certo casos
estão fazendo aflorar o que o ser humano tem de pior. O jornalista Diego
Escosteguy, sintetizou: “Abrir as redes sociais tornou-se um ato de fé e de
coragem; a cada esquina digital, esbarra-se na ignorância orgulhosa, na
incivilidade boçal, na intolerância odiosa.”
É oportuno o fato do cientista
pioneiro de computação e um dos maiores conhecedores da realidade virtual no
mundo, o norte americano Jaron Lanier, ter o seu quinto livro lançado no
Brasil. A polêmica começa pelo título “Dez argumentos para você deletar agora
suas redes sociais”. Fixando o prazo de seis meses para o internauta “retomar a
consciência de si próprio”.
A jornalista Paula Soprana,
especialista em on-line e novas tecnologias influenciadoras de comportamentos
da sociedade, fez na Folha de S.Paulo importante entrevista com o autor,
destacando os 10 argumentos de Jaron Lanier, sobre a internet: 1. “Você está perdendo o seu livre-arbítrio;
2- “Largar as redes sociais é a maneira mais certeira de resistir à insanidade
dos nossos tempos”; 3-“As redes sociais estão tornando você um babaca”; 4-As
redes sociais minam a verdade”; 5-“As redes sociais transformam o que você diz
em algo sem sentido”; 6-“As redes sociais destroem sua capacidade de empatia”;
7-“As redes sociais deixam você infeliz”; 8-“As redes sociais não querem que
você tenha dignidade econômica”; 9-“As redes sociais tornam a política
impossível”; e 10-“As redes sociais odeiam sua alma.”
O polêmico livro de Jaron Lanier,
sendo ele pioneiro da realidade virtual mundial, não pode deixar se ser lido
pelos internautas responsáveis e adeptos da informação séria e consistente.
Certamente a maioria daqueles que frequentam marginalmente as redes sociais,
militantes da “guerrilha virtual”, desqualificarão as observações do experiente
cientista, ignorando ser ele um dos internautas mais importantes do mundo e
fiel defensor dos valores humanistas.
Hélio Duque é doutor em Ciências, área econômica, pela
Universidade Estadual Paulista (UNESP). Foi Deputado Federal (1978-1991). É
autor de vários livros sobre a economia brasileira.
Um comentário:
Antes de conservadores voltarem ao poder, ninguém se preocupava com as "fake news" nas redes sociais ou (por décadas) na grande mídia.
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