Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Fábio Chazyn
Capitulo 1: Acesso do Cidadão à
Modernidade
Nas
palavras do saudoso Roberto Campos, “estatística é como biquíni, mostra tudo
menos o essencial!”. A prudência manda acrescentar à essa máxima que, bem
interpretada, a estatística pode até ser reveladora...
É notório
que as estatísticas podem ser usadas para o bem e para o mal. Certos
manipuladores, daqui e acolá, usam as estatísticas a seu bel-prazer para
dirigir as nossas opiniões. Quando querem, colocam o Brasil no topo da lista
dos mais fortes, quando não querem, nos desclassificam. Para nos enaltecerem
lembram o grande mercado brasileiro com a 6ª população do mundo ou a nossa
capacidade de produzir riqueza (PIB), que nos coloca no 7º lugar.
Mas quando
se trata de admitir a nossa riqueza (Ativo menos Passivo) que nos credenciaria
a sentar à mesa com os grandes, somos somente pirralhos na 17ª posição com
apenas 0.78% da riqueza mundial, enquanto 7 países “mais ricos” dizem acumular
71,61% do total, ainda que a conta que eles fazem inclua a riqueza dos
cidadãos, capital e recursos naturais. Como se os nossos ‘estoques’ em
minérios, terras produtivas e recursos energéticos hídricos, eólicos, biomassa,
solar, petróleo, ufa!... fossem só um detalhe e não possam ser contabilizados
no nosso “Ativo”...
Sabemos que,
na verdade, o Brasil tem tudo de sobra! É também verdade que, se temos tudo de
bom, temos também muito de mau. Estamos atrás da 70ª posição em termos de
igualdade social; 50% da população não tem água potável e esgoto, nem acesso
decente à saúde ou educação. Estamos em 4º lugar em população carcerária com
quase a metade dos 700 mil detentos sem julgamento.
Somos a
Nação da alegoria. É fácil encontrar estatística confirmando a nossa índole
alegre e festiva, enquanto “ostentamos” mais de 500 mil assassinatos nos
últimos 7 anos, superando a tragédia da guerra da Síria. De fato, temos muita
lição de casa p’ra fazer antes de dizer que o Brasil tem futuro.
E depois de
resolver as nossas incoerências e pagar as nossas dívidas sociais, ufa!... será
que seremos o país do futuro? Que nada! Lá na frente, p’ra sermos o país do futuro,
vamos ter que ser um país moderno. Mas, o que é um país moderno? Bem, hoje um
país moderno é aquele em que o seu cidadão tem fácil acesso à energia elétrica;
a qualidade de vida está ligada ao acesso à eletricidade.
Nesse
tocante, o que é que temos feito para ajudar o brasileiro ter acesso à
eletricidade? Nada, ou melhor tudo. Estamos fazendo tudo p’ra atrapalhar. Como?
Para ilustrar esse ponto vale a pena comparar com o que fez a China que baseou
seu crescimento de 40 vezes em 40 anos na facilidade de acesso à eletricidade
barata. O estudo da CPFL de 2015 aponta que o custo de geração de energia na
China é 40% mais barato do que no Brasil, onde o custo de transmissão é 4,2
vezes maior e os impostos embutidos é 5,5 vezes maior no Brasil do que na China.
Definitivamente,
o Brasil está na contramão da experiência chinesa e dos outros países
preocupados com a modernidade. Senão vejamos:
Em primeiro
lugar, vamos admitir que o Brasil tem uma renda per capita anual, ou seja
“média”, de uns 15 mil dólares por ano, sem esquecer que no Brasil os 10% mais
ricos ganham quase 20 vezes o que ganham os 40% na outra ponta, o que falseia
completamente a dita “média”. Entretanto, para benefício da argumentação, e
corroborando com ela, vamos partir dessa hipótese de renda.
Por outro
lado, aquele estudo da CPFL sobre o custo da eletricidade residencial em vários
países permite concluir que o Brasil ocupa, de longe, o 1º lugar no ranking do
maior custo de energia elétrica para o cidadão consumidor!
Verdade?
Sim, pois ainda que, por exemplo, a Alemanha tenha o maior preço da
eletricidade residencial e embuta também o maior imposto, atingindo 2,4 vezes o
preço praticado no Brasil, tem-se que considerar que o alemão “médio” conta com
uma renda 3,3 vezes maior do que o brasileiro “médio”. Com poder aquisitivo
maior, infere-se que o alemão “médio” tenha que dispor de 27% a menos de sua
renda do que o brasileiro “médio” tem que dispor da sua para adquirir o mesmo
elétron. Analogamente, o cidadão no Brasil tem que dispor de quase 3 vezes mais
do que um chinês; 4,3 vezes mais do que um americano da Califórnia; quase 5
vezes mais do que um russo; 7,2 vezes mais do que um canadense!...
E como a
realidade do brasileiro “real” é de uma renda bem abaixo da que consideramos
“média”, o acesso do brasileiro ao elétron é na realidade ainda muito pior.
Será que
continuar determinando o custo de energia no Brasil através dos leilões de
energia, imperativamente privilegiando a remuneração do capital, seria a melhor
forma de trabalhar para construir um país moderno?
Fabio Chazyn,
Empresário, é Autor do livro “Consumo Já!” – Por um novo Itamaraty.
Um comentário:
Nesse exato momento na TV cultura, esta passando um programa "financiado" pela CPFL (não é uma companhia elétrica ?); parece desrespeito (provocação) o nome do programa; hoje eles estão dando um "café" filosófico para o FHC. O FHC, está explicando como funciona a politica; só que ele esta (preso no passado) falando de 2 séculos atrás. https://www.youtube.com/watch?v=7bpQLCnHxL0
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