Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Maynard Marques de Santa Rosa
John Lewis Gaddis, em As Grandes Estratégias, obra elaborada à luz da
História, alertou que “o bom-senso é como o oxigênio: quanto mais alto se sobe,
mais escasso se torna”.
A crise de poder que perturba o governo decorre de falta de conhecimento
e de discernimento. A ignorância torna a administração errática; e a ausência
de discernimento leva o governante a dispersar as energias anímicas em vão.
A ordem vigente no país ensejou uma situação inusitada entre os Poderes
da República, fruto das idiossincrasias brasileiras. O Legislativo age como uma
hidra de 33 cabeças e cérebro babélico, que arrasta a própria inércia e uma
carga fisiológica atávica, perdendo espaço crescente para o ativismo judiciário.
O STF, devidamente aparelhado pelos governos anteriores, tornou-se caixa de
ressonância dos partidos de oposição. E o Executivo, timoneiro que é do destino
coletivo, virou refém dos outros dois.
A dialética das pressões mergulhou a governança em um ambiente infernal,
onde a falta de bússola e a ausência de luz podem levar o penitente ao reino de
Hades.
Estudando múltiplas personalidades à luz da História, Maquiavel filtrou a
espécie em três tipos de homens: “o que discerne por si próprio, o que discerne
com o auxílio dos outros e o que não se enquadra em nenhum dos dois casos. Este
último não serve para ser príncipe”.
O problema se agrava quando a qualidade da assessoria depende de
nepotismo ou amizade, tornando-se inepta e inócua ou quase inútil. Preocupou-se
o mestre florentino em prevenir o poder dos bastidores, ao recomendar que deve
o príncipe ouvir o assessor quando lhe convém, e não quando convém ao assessor.
Contudo, a necessidade sugere, também, atentar para a sabedoria popular: “Quem
não ouve conselho, raramente acerta”.
A resiliência das instituições exige uma mudança de feição. A dialética
agressiva merece dar lugar a uma atitude mais ponderada. O discurso tem de ser
dirigido ao conjunto, e não a uma só das partes. Todos devem obedecer ao princípio
de separação de interesses: não confundir o que é público com o particular ou
privado. A cúpula tem de integrar-se em equipe. E a estrutura precisa ser mais
equânime, sem a existência de ministérios hegemônicos, para que a Casa Civil
consiga coordenar e integrar as atividades estratégicas.
Concluindo estas divagações,
vale relembrar a citação de um sociólogo europeu de notória sabedoria: “A saúde
de uma sociedade democrática pode ser medida pela qualidade de funções
desempenhadas por seus cidadãos” (Alexis de Tocquéville).
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