Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Félix Maier
Fonte: Fichamentos de "História Oral do Exército - 31 de Março de
1964" (*)
“Minha terceira história refere-se à época em que morreu aquele
jornalista, o Vladimir Herzog. Era Chefe do Estado-Maior na 2ª. RM e o General
Antônio Ferreira Marques era Chefe do Estado-Maior do II Exército.
O General Ednardo D’Ávilla Melo, em respeito ao Presidente Ernesto
Geisel, nomeou o General Fernando Guimarães de Cerqueira Lima, seu
ex-assistente, para encarregado do inquérito; um general recém-promovido, que
fora nomeado Comandante da Brigada de Caçapava, um brilhante oficial, meu amigo
desde Capitão, mais antigo que eu três turmas. Homem de caráter, fez o
inquérito com toda a lisura. À época, chegou para mim e disse:
- Oliva, estão aqui as fotografias do Herzog.
Por que ele me mostrou? Cerqueira Lima tinha um problema nos rins, uma
virose, e todo dia depois do almoço necessitava descansar meia hora; tinha que
deitar, pelo que passou a usar o meu apartamento, no QG.
As fotografias apresentavam o corpo pendurado e depois nu. Não
apresentava marca nenhuma. Os legistas têm um método em que lavam o corpo e se
existirem sinais de tortura, os sinais aparecem. Mas não havia nada. Ele
enforcou-se com o próprio cinto – até então os presos ficavam com o cinto para
segurar a calça, depois foi proibido, o preso tinha que segurar as calas com a
mão. Perguntei-lhe:
- Cerqueira, alguém morre nessa posição?
- Oliva, eu não sei. Pedi para três médicos legistas me darem parecer,
sobre se é possível alguém se matar dessa maneira. Os três afirmaram que sim.
Nenhum preso ouviu nada, nem carcereiro, ninguém ouviu nada. O que eu tenho de
concreto são os três pareceres dos médicos, logo concluo que houve suicídio.
Cerqueira Lima disse que para ele foi suicídio; até agora, com a prova
que existe, documental, foi suicídio. Após o enterro, o ‘Estadão’ publicou
declaração do rabino – o Herzog era judeu -, que o enterro tinha sido
antecipado por ordens superiores. Diziam que um capitão tinha dado essa ordem
ao rabino. Nada disso tinha acontecido, fora notícia mentirosa.
Na ocasião, constou que a esposa dele ia aos colégios, de sala em sala,
dizendo que o marido tinha sido torturado e morto. Começaram a promover greve
estudantil. O Colégio Objetivo funcionava na Paulista e tinha cinco mil alunos.
Seria uma loucura cinco mil meninos, nervosos na rua, à noite. Chamei lá em
casa os dois diretores do Grêmio Estudantil e perguntei-lhes se sabiam de
alguém que tinha visto ou falado algo. Disseram que não. Orientei-lhes, então,
para avisar seus colegas para terem calma e não fazerem bobagem: esperar o
resultado do inquérito. Se vocês concordarem, tudo bem, se não, façam greve.
Mas agora, não. Foi o único colégio em que não houve greve.
O General Cerqueira chegou a pesquisar a vida dele. Soube que Herzog
estava em tratamento médico, era jornalista, atuava no jornal da TV Cultura.
Politicamente, não tinha nenhuma expressão, na minha opinião pessoal. Alguém o
prendeu, não sei o motivo. Aliás, não era a minha área. O Comando da 2ª. RM só
cuidava da corrupção de militares. Combate à subversão era com o Comando do II
Exército.
Descobriu que ele estava em tratamento psiquiátrico. Dedução lógica,
então, era um homem que provavelmente estava depressivo, em crise ou qualquer
coisa dessa natureza; por ter sido preso, poderia ter se auto-sugestionado e
cometido suicídio. Admito que a versão real seja essa, não estou dizendo que
foi, eu não vi, só conheci a documentação.
Legalmente, no inquérito, ou você tem provas ou tem três testemunhas
visuais, isso é da lei civil e militar. Se você não apresenta três testemunhas
visuais, se não possui provas documentais, não pode condenar ninguém.
Inegavelmente, foi ruim para a Revolução, porque de qualquer modo justificou a
posição dos líderes que eram contra nós” (General-de-Exército Oswaldo Muniz
Oliva, Tomo 7, pg. 76-77).
Obs.
Quando trabalhei no Departamento-Geral do Pessoal (DGP), de 2009 a 2019,
como Prestador de Tarefa por Tempo Certo (PTTC), um coronel da Assessoria de
Planejamento e Gestão (APG) me garantiu que um soldado, em uma Unidade do RS,
não me lembro qual, havia se enforcado na prisão em situação semelhante à de
Vladimir Herzog.
Felix Maier
“Tenho minhas dúvidas sobre o que dizem em relação ao Vladimir Herzog,
pois conheço a pessoa que fez o inquérito – General Cerqueira Lima (Fernando
Guimarães de Cerqueira Lima) – fui assistente dele e seu Chefe de Estado-Maior.
É um homem muito inteligente, dos mais sérios e lúcidos que eu já via na minha
vida. E ele me jurava:
- Pode ser que tenham matado o Herzog, mas não consegui provar nada.
Passei um mês sem dormir fazendo o inquérito.
Ele tinha uma cópia do inquérito e hoje me arrependo de não ter
solicitado uma para mim. Sou metido a escrever – daria um best seller
fantástico.
No final, o D’Ávila (Ednardo D’Ávila Mello) foi responsabilizado e
exonerado do Comando” (Coronel Renato Moreira, Tomo 8, pg. 357).
“A imprensa vive explorando a morte do Vladimir Herzog no II Exército.
Poucas vezes comenta-se que o General-de-Exército D’Ávila Mello (Ednardo
D’Ávila Mello) – que foi meu instrutor na ECEME – foi demitido pelo Presidente
Geisel por causa daquela morte, principalmente pelo fato do morto ser
jornalista. Mas ninguém sabe o nome, nem faz referência, ao Edson Régis de
Carvalho, que também era jornalista e morreu atingido pela bomba no aeroporto
de Guararapes, no Recife. Aí está o peso da parcialidade da imprensa no que
tange ao ‘revanchismo’ (Tenente-Coronel Alexandre Máximo Chaves Amêndola, Tomo
8, pg. 397).
Depoimento de jornalista do Estadão desmente tortura de Herzog no dia de
sua prisão e morte no dia seguinte
“Até gostaria de dar um exemplo do que a mídia torce. Vocês devem lembrar
do caso Vladimir Herzog e que há um prêmio de reportagem Vladimir Herzog. Ele
compareceu ao DOI em São Paulo acompanhado do jornalista que era credenciado lá
no II Exército e que se chamava Paulo Nunes. Apresentou-se de manhã, às 8h da
manhã, para depor. Após o almoço, já havia terminado tudo, ficando numa sala,
afastado, e, ali, ele enforcou-se. Hoje, a imprensa publica, como subsídio para
exame de vestibular, encarte em que Vladimir Herzog foi preso e, após uma note
de torturas, amanheceu enforcado.
Digo, meu Deus, é só pegar o Estadão da época para ver o que acontecem,
mas não se preocupam com isso. O que fica valendo para o jovem, que vai fazer o
vestibular, é o que consta nesse recorte que lhe foi fornecido. Mas é a
história que eles contam e, a partir daí, passou a ser verdade, mas a verdade
foi contada detalhadamente pelos jornais da época, como O Estado de São Paulo,
ao qual já me referi.
A verdade foi mostrada pelo jornalista Paulo Nunes. Ele testemunhou,
dizendo: ‘Eu fui levar o Herzog de manhã às 8h e às 16h iria busca-lo. Foi uma
surpresa para nós, para todos nós que ele tenha se enforcado’. Digo que este
sujeito não era mais que um jornalista, não tinha nada de importante.
Não era importante. [entrevistador]
Hoje, ninguém sabe que ele era um jornalista como outro qualquer.
Associou-se a sua pessoa uma figura de grande renome. Prêmio Vladimir Herzog –
para um judeu, apátrida, que nem brasileiro era.
Um estrangeiro metendo o bedelho nas nossas coisas... [entrevistador]
Ele era iugoslavo, saiu da Iugoslávia, foi para a Itália e depois para o
Brasil e, aqui, deram cidadania brasileira. Consta que foi locutor da BBC em
Londres” (Coronel Audir Santos Maciel, Tomo 11, pg. 151-152).
Obs.
Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia & Direitos Humanos
A esquerda é rápida em fabricar heróis, como foi o caso de Vladimir
Herzog, o Vlado, filiado ao Partido Comunista Brasileiro, atuante na base
comunista infiltrada na revista Visão e, depois, na TV Cultura – vulgo
“Viet-Cultura”, e mais recentemente, Marielle Franco, vereadora carioca pelo
PSol, duas personalidades opacas que, depois da morte, foram elevadas ao Olimpo
dos Heróis da Pátria.
Veja, Visão, Realidade, Vozes eram revistas que serviam de ninho para
jornalistas comunistas, que ditavam o que podia e o que não podia ser
publicado. Isso, durante a “ditadura”. Que ditadura foi essa?
Todo ano, personalidades e órgãos de esquerda recebem o Prêmio Vladimir
Herzog pelo único motivo de serem de esquerda – cfr. os vencedores do Prêmio em
2019:
Na mesma época da morte de Vladimir Herzog, morreram no DOI-CODI, em
condições semelhantes, o tenente PM José Ferreira de Almeida e o operário
Manoel Fiel Filho. Ao contrário de Vlado, estes nunca são lembrados pela mídia
militante. Afinal, não eram jornalistas. Nem pertenciam ao Partidão.
Félix Maier
Vladimir Herzog, agente do Serviço Secreto inglês?
“Mas não foi o General [Cerqueira Lima] que me levantou esse outro
aspecto. Isso eu vi e ouvi na televisão, comentado pelo Paulo Francis – um
homem de esquerda – quando se referia ao assunto em um de seus programas. Ele
disse que se investigassem os seis meses durante os quais o Herzog passara
desaparecido, e se conseguissem descobrir onde ele estivera, concluiriam que,
na verdade, ele fora um agente duplo, a serviço de sua Majestade.
[entrevistador]
Não, não acredito.
É fantástico! É assunto para escrever um livro. [entrevistador]
É a primeira vez que eu ouço tal afirmativa.
Mas é uma tese até romântica [entrevistador]
Os ingleses não reclamam nada.
Não, talvez por isso é que ele cometeu suicídio. Achou que não
conseguiria guardar o segredo e na hora que descobrissem que ele não era só
agente do partidão, não era homem do Trotski, do Brejnev e que, na realidade, o
líder dele era a rainha-mãe, ele se desmoralizaria e iriam justiça-lo. Porque
ele morreu glorificado, vítima da nossa violência. E, se falasse, morreria
jutiçado. Agora, há um detalhe, que dá maior credibilidade a essa teoria: ele
foi locutor da BBC de Londres durante dois anos” [entrevistador] (Coronel
Amarcy de Castro e Araújo, Tomo 8, pg. 375-376).
Obs.
O ex-governador de São Paulo, Paulo Egydio Martins, afirma que Vladimir
Herzog foi agente do Serviço Secreto inglês – cfr. https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/04/vladimir-herzog-agente-duplo.html.
Adendo:
Residência de Vlado serviu de esconderijo para Marighella
“Anos antes, no fim de 1968, quando Vlado nem cogitava assinar ficha no
Partidão, um dos expoentes da luta armada, Carlos Marighella, foi um furtivo
hóspede de sua casa, que várias vezes serviu de ‘ponto’ para encontros do líder
da ALN com sua companheira, Clara Charf” (Audálio Dantas, in “As duas guerras
de Vlado Herzog”, Civilização Brasileira, Rio, 2ª. edição, 2014, pg. 90 –
vencedor do Troféu Juca Pato 2013).
Um comentário:
45 anos depois e o Brasil continua no passado...o futuro não existe para esse pais...
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